O Paisagismo e as Certificações na Construção Sustentável

Autor: Marcelo Zlochevsky - Data: 30/11/2020

A palavra Sustentabilidade é sem dúvida uma das mais pronunciadas em todo o mundo, abordando assuntos polêmicos e outros mais consensuais. Este artigo transcreve uma palestra que tive a oportunidade de oferecer no CONAPA 2020, evento online do paisagismo brasileiro, transmitido de 24 a 27 de novembro em português, espanhol e inglês para vários países, focado na contribuição do paisagismo às práticas sustentáveis.

O desdobrar em “SUSTENTA” + “HABILIDADE”, remete a habilidade em dar sustentação ao planeta, o que não fizemos bem nos últimos anos. Felizmente há maior atenção em várias esferas e comunidades, com ações de recuperação, as vezes polemizadas em críticas amparadas no desenvolvimento econômico. O importante é que discutimos o tema e evoluímos.

Na semana anterior ao CONAPA, a Conferência Internacional do Green Building Brasil 2020, com palestras on-line em vez do tradicional evento presencial, evidenciou o quanto já praticamos Sustentabilidade, com ações cada vez mais comuns em edificações, residências, condomínios, campos esportivos e centros comerciais em 4 pilares centrais:

O PILAR DA ENERGIA, ensina sobre as reduções no consumo com lâmpadas LED, mais iluminação natural, equipamentos de sensoriamento e automação, temporizadores, aquecedores solares, e especialmente a geração de energia local com placas fotovoltaicas de uso crescente.

O PILAR DA ÁGUA realça a captação e uso de água de chuva e água de reuso. A irrigação do paisagismo é o melhor uso destas duas fontes de água, sem restrições a odor e contaminantes quando usados sistemas de irrigação subsuperficial. As torneiras com temporizadores e as válvulas em sanitários econômicos têm boa oferta no mercado. Uma das palestras realçou as Estações de Tratamento de Esgoto locais baseadas no paisagismo como o grande filtro de impurezas.

NO PILAR DA QUALIDADE D E VIDA, o destaque foi para os Jardins Verticais, Telhados Verdes e Hortas Urbanas, tão presentes à nossa volta. Realce para a consciência à acessibilidade, quebrando inércias, ainda que haja muito por fazer, a coleta de lixo seletiva em escala crescente gerando emprego e receita e o óleo de cozinha que não é mais descartado nos ralos.

O PILAR DOS MATERIAIS citou o Reciclar, Reusar e Reduzir Consumo, os “3Rs”. Há embalagens bio degradáveis, além de levarmos as próprias sacolas ao supermercado. A compostagem está nos lares, de forma descomplicada. Em outra série de palestras, o paisagista Raul Cânovas perguntou e respondeu: Qual o Jardim que queremos no futuro? Será mais romântico, mas colorido, mais atraente, mais sustentável e com mais espécies nativas, árvores gerando sombra nos parques, praças e
ruas, com destaque ao Pau Brasil, parte da nossa história e às espécies de Ipê, com floradas intensas em diversas épocas do ano em todo o país.

Temos hoje diversos órgãos certificadores padronizando regras, avaliações e monitoramento do cumprimento. Os certificados Carbon Trust Standard e a Carbon Offset Credits disciplinam sobre a reposição do Carbono queimado por combustíveis fosseis e geração de CO2. FitWell e International Well Building focam no bem estar e saúde das pessoas. O Selo Procel Edifica, Selo Verde e a ISO 50001 disciplinam o uso de energia. O Processo Aqua rege especificamente o uso racional de água em edificações. O LEED GBC, é o mais presente e abrangente no Brasil, segundo lugar no ranking de obras certificadas no mundo.

São 4 plataformas certificadoras. O LEED USGBC para edifícios, comunidades e cidades foca em sustentabilidade, equilíbrio e vida longa da edificação. O GBC CASA destina-se a construções unifamiliares novas com olhar para o conforto, saúde e bem estar. O GBC CONDOMÍNIO foca em conforto, saúde e bem estar em condomínios residências e comerciais. O selo ENERGIA RENOVÁVEL, para construções, reformas e operação da edificação, foca no gasto e produção de energia local limpa. Zero Energy contempla o imóvel que gera 100% do que gasta. O Zero Water contempla 100% de aproveitamento de água de chuva e reuso, reduzindo o uso de água tratada e descarte de dejetos.

A certificação LEED tem 4 categorias. O selo Verde exige o mínimo de 40 pontos, o Pratade 50 pontos, o Ouro 60 pontos e o Platinum acima de 80 pontos. O paisagismo está presente influenciando 90 dos 110 pontos de Créditos de Desempenho e 7 pontos dos chamados Pré Requisitos de ações obrigatórias em qualquer empreendimento em procedimento de certificação. O paisagismo influencia nas 5 tipologias indicadas pela seta na ilustração.

A certificação tem viabilidade financeira própria. Não há de se gastar mais para certificar uma obra. Pelo contrário. A certificação é abrangente, adequada a realidade, e incorpora benefício financeiro, reduzindo o custo operacional, gastando menos com água e energia e trazendo receita extra aos aluguéis de 10 a 15%, pela valorização das empresas que aprenderam a diferenciar seu negócio no alinhamento a práticas sustentáveis. Os imóveis certificados agregam 10 a 20% ao valor patrimonial por estarem preparados aos tempos de respeito a escassez crescente de água e energia. O Novo Normal imposto pela Covid19 valoriza o ambiente saudável no trabalho e em casa, agora um ambiente misto.

Romero Rodrigues publicou um artigo citando a evolução da consciência das empresas e consumidores, com mais visibilidade e adeptos ao socioambiental, e o trabalha das startups e os chamados “Cleantechs”:

“Sem contar que a conscientização ainda vem sendo construída e a grande maioria das pessoas não sabe distinguir o que dá e o que não dá para ser reciclado. A boa notícia é que os consumidores estão cada vez mais conscientes e ativos na busca de informações sobre o impacto das marcas e querem saber o que elas têm feito em relação a isso. Exemplo disso é o estudo publicado em 2018 pelo SPC Brasil e pelo Meu Bolso Feliz, no qual se mostrou que 71% dos consumidores davam preferência a produtos de marcas comprometidas com ações ambientais e sociais e 56% chegavam a desistir da compra se a empresa adotasse práticas nocivas ao meio ambiente”.


Na Tipologia ESPAÇO SUSTENTÁVEL, a contribuição do paisagismo ao conforto térmico, acústico e ambiental é indiscutível. A qualidade do ar e Biodiversidade são contribuições exclusivas das árvores que sombreiam, reduzem a temperatura ambiente em até 20ºC, abafam ruídos e devolvem os pássaros. O apelo é notado no olhar de pessoas sob a sombra de uma árvore ou interagindo com um parque bem cuidado.

Em tempos de isolamento social, uma casa com jardim ou morar em frente a uma praça faz a diferença. Na tipologia EFICIÊNC IA NO USO DA ÁGUA, a coleta e uso de água de chuva e reuso de água antes descartada na rede de esgoto, é cada vez mais presente em novas edificações, com retorno do investimento pela redução da conta de água e coleta de esgoto. A prática conhecida há mais de 6.000 anos pelos chineses, tem registros na construção de palácios em Creta em 2.000 AC, na pedra Moabita de 830 AC e na Fortaleza
de Massada construída pelo Império Romano nas proximidades do Mar Morto.

Em tempos atuais, há estudos das águas subterrâneas, construção de barragens estabilizadoras e atenção aos limites de recursos hídricos. No Nordeste do Brasil foram construídas milhares de cisternas de acúmulo de água de chuva. Somamos muitas obras de recuperação da vegetação nativa em Minas Gerais preservando nascentes. As Arenas da Copa de 2014 e Jogos Olímpicos de 2018 consagraram a tecnologia, com gramados irrigados pela água da distribuição, reduz inundações e danos erosivos. A Conferência do GBC 2020, reportou sobre as hortas urbanos nos telhados de edifícios com inúmeros benefícios.

Em ENERGIA E ATMOSFERA, a redução nos gastos com energia na refrigeração de ambientes, a remoção do CO2 expelido por carros e indústria são o destaque do paisagismo. Há inovações como paradas de ônibus com um telhado coberto de plantas e uma placa fotovoltaica, que supre energia para a iluminação, uma tomada para carregar celular e a irrigação das plantas com água de chuva. A energia gerada localmente por placas fotovoltaicas, é um grande destaque.

Na QUALIDADE AMBIENTAL EX TERNA, conhecemos os benefícios dos grandes jardins verticais devolvendo condições ambientais perdidas no crescimento das cidades. São Paulo é um grande exemplo de êxitos e fracassos. A Cidade do México tem diversas obras de destaque mundial. Estudos confirmam o potencial de redução de 40% no consumo de água, 30% no gasto de energia, 35% na redução do CO2 no ambiente e 65% nos resíduos descartados.

Nos CRÉDITOS DE PRIORIDADE REGIONAL, reconhecidos os esforços da nova vegetação às margens dos Rios Pinheiros e Tietê em São Paulo, é necessário maior rigor no respeito às Leis Ambientais, de Outorga de uso de água, Áreas de Preservação Permanente e ao Código Florestal nas grandes cidades, a exemplo do que se impõem ao setor Agrícola. As árvores são vítimas e não vilãs nas quedas sobre a rede elétrica. Seu espaço foi invadido, e o respeito será resgatado quando os cabos elétricos forem enterrados. Não há que se basear mais na sazonalidade climática e regularidade de chuvas e temperaturas; as enchentes e secas acontecem no mesmo espaço com diferença de poucos dias.

Há diversos exemplos de obras usufruindo do equilíbrio térmico, acústico, ambiental e retorno da Biodiversidade, apoiados pelo paisagismo, como as Arenas da Copa de 2014 com LEED Prata (Maracanã) a LEED Platina (Mineirão). Em Curitiba a sede da RAC
Engenharia (LEED Platina) e do Conselho Regional de Educação Física (LEED Ouro). Em Brasília, o Laboratório Sabin (LEED Platina) tem área verde no último andar irrigada com água de reuso, o Centro Corporativo Portinari (primeiro LEED platina no Centro Oeste) e o
INEPI Vila Lobos (LEED ouro) com paisagismo sustentável de baixa manutenção e demanda de água. Em São Paulo há inúmeras construções certificadas na Marginal do Pinheiros, que se apelida de Ilha Sustentável pelo reuso de água, geração própria de energia, aplicação de materiais alternativos, sistemas de automação e mais.

Um exemplo visitado é o Condomínio Morumbi Corporate Towers, com jardins internos que criam agradáveis ambientes, salas comerciais bem iluminadas e ambientação sustentável, coleta e uso de água de chuva e água de reuso que reduziram significativamente o volume total no consumo de água tratada. Os tempos de brincadeiras com água tratada e de gastança de energia acabaram; estamos diante de cenários que impõem responsabilidade ao uso consciente deste líquido vital a vida e necessidade de gerar energia limpa e barata, evitando colapsos já vistos em nossos tempos.

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