Boas práticas no cálculo da lâmina de água em sistemas de irrigação
Autor: Marcelo Zlochevsky - Data: 14/07/2020
U m Sistema de Irrigação deve suprir água e nutrientes às plantas harmonizando uma boa aeração do solo a real demanda de água das plantas. A atenção às escolhas e aos cálculos durante o dimensionamento do projeto é determinante para que no futuro seja possível um manejo adequado da frequência e tempos de rega adequados a vegetação, a idade e a fase fenológica das plantas, as variações climáticas, uso do paisagismo e preservação da relação SOLO-PLANTA-ÁGUA-CLIMA.

Movimento da água no sentido decrescente de umidade, acionado pela Evapotranspiração. O solo é um grande reservatório de água e nutrientes consumidos pelas plantas. A água é extraída do solo pelo gradiente criado pela transpiração das plantas e pela evaporação direta para o ambiente, como um mecanismo de uma bomba acionada intermitentemente para repor o reservatório em um processo dinâmico e que se repete sem intervalos.
Vejamos os 10 principais mandamentos na elaboração do projeto e seleção do tipo de sistema a ser usado para atender a este objetivo que varia diariamente.
1. As espécies de plantas usadas e a diversidade constituem o critério mais importante na seleção do

tipo de irrigação e de emissores. Gramados são geralmente irrigados por aspersores escamotáveis, cobrindo toda a área sem grandes restrições, desde que cumpridas as exigências de uniformidade de distribuição e sobreposição, o que pode ser bem atendido por rotores, sprays e bocais rotativos, conforme as dimensões, formato da área e o uso do gramado. Canteiros de Alpinas, Helicôneas ou Antúrios exigem um complemento de lâmina que pode ser suprido por emissores da linha da Irrigação de Baixo Volume, evitando o jato de água nas folhas e flores. Canteiros arbustivos com Buxinhos, Hibiscus, Crótons e Lírios terão a preferência da irrigação com tubos gotejadores sub copa. Árvores frutíferas exigem um complemente de lâmina que pode ser atendido por gotejadores adicionais. O projetista não deve esquecer de avaliar a evolução futura do Jardim.
2. O Tipo de Jardim a ser irrigado é o segundo critério. Jardins Horizontais, Jardins Verticais, Telhados

Verdes, Jardim de Interior orientam o tipo de sistema de irrigação mais adequado. Um jardim vertical usando vasos, será bem atendido por gotejadores de botão, com microtubo e estacas de fixação. Estes vasos, geralmente fixados em telas ou suportes moveis, podem ter a posição alterada ou a troca de plantas ao longo da vida, usufruindo da grande variedade de vazões de gotejadores para atender a diversidade de plantas, micro clima nos diversos pontos e alturas, drenabilidade do substrato usado e outras mais. Já em Telhados Verdes, a profundidade do solo é um fator decisivo na escolha. Geralmente rasos para reduzir ao máximo o peso sobre as lajes, favorecem o uso de tubos gotejadores enterrados ou superficiais, com opções de baixa vazão, ajudando a evitar encharcamentos e escorrimentos indesejados, além de ter baixa exigência de manutenção, o que pode ser decisivo em telhados de acesso mais difícil.
3. A disponibilidade de água e energia elétrica influenciam na forma de projetar e de operar a irrigação. Não havendo restrições de vazão ou pressão, estaremos liberados nas escolhas. Mas em obras em andamento ou prontas, os pontos de água podem estar definidos e a água ser suprida de uma caixa d’água ou diretamente da rua, obrigando a divisão em mais setores e a opção por tubos e válvulas de maior diâmetro. Controladores com mais recursos podem ser necessários e as vezes um reservatório com uma moto bomba. A operação segura das válvulas exige 10 mca de pressão e gotejadores autocompensantes exigem uma pressão mínima de 5 mca para que a vazão se estabilize. Em casos extremos, pode ser preciso reduzir a área irrigada ou a lâmina, o que deve ser avaliado antes dos primeiros esboços do projeto.
4. A Janela de Irrigação permitida, ou seja, em que horário a irrigação pode funcionar sem interferir no uso do jardim ou circulação pela área do paisagismo, são fatores importantes na escolha dos emissores, da quantidade de setores operacionais e do manejo da rega em geral. Parques públicos, Shopping Centers, Jardins em Hotéis limitam o funcionamento da irrigação entre meia noite e 8:00 horas da manhã. É importante lembrar que é melhor irrigar os jardins nas primeiras horas do dia, evitando que as plantas passem a noite em ambiente extremamente úmido, facilitando a incidência de doenças e fungos ou que atravessem um dia quente sem umidade suficiente.
5. A qualidade da água usada deve ser conhecida, dimensionando filtros e proteções adequadas.

Temos uma boa oferta de filtros de proteção contra entupimento e de válvulas de retenção contra contaminação pelo contra fluxo. Esta atenção deve ser redobrada quando utilizada água de reuso, prática cada vez mais comum na irrigação de paisagismo. Esta é inclusive uma grande vantagem, pois a rigor o melhor uso para água com odor desagradável ou com eventuais contaminantes é a irrigação sub superficial. O tratamento limita-se a filtragem para reter resíduos sólidos.
6. O tipo de solo e a taxa de infiltração devem ser conhecidos evitando erros no manejo da irrigação, com perdas por lixiviação, escorrimento lateral e erosão do solo. Há uma grande oferta de emissores que operam a partir de 0,5 litros por hora. Utilizando a irrigação por gotejamento, o espaçamento entre emissores será influenciado pela textura do solo. Em solos arenosos, as laterais de gotejamento devem estar no máximo a cada 15 a 20 cm de distância para garantir a umidade uniforme. Já em solos mais argilosos podemos estender esta distância até 45 a 60 cm sem receio de deixar áreas secas.

7. Os Custos de aquisição, operação & manutenção são sempre relevantes em qualquer escolha e

decisivos no sucesso da implantação do sistema. Jardins residenciais, menos expostos ao vandalismo, desfrutam de uma extensa gama de produtos de custo de aquisição e manutenção mais baixos, mas que sofreriam um desgaste mais acentuado em um parque, praça ou jardim público, mais suscetíveis a ações externas. A irrigação de gramados em áreas residenciais pode ser feita com aspersores tipo rotor com menos recursos de ajuste e de proteção do que em campos de futebol profissional, com intensos tratos culturais e pisoteio agressivo. O uso de areia grossa exige aspersores com corpo de elevação em inox, enquanto em residências podemos usar a opção em plástico sem maiores receios a vida útil do sistema.
8. A definição da Lâmina d’água para elaboração do projeto, ou seja, o volume de água máximo que o sistema deverá ser capaz de suprir, é uma etapa importante nas opções do projetista. Os parâmetros determinantes são relativos ao clima e ao tipo de plantas a irrigar. A Evapotranspiração Potencial (ET0 em mm/dia) pode ser obtida por medição local, estações meteorológicas próximas ou pela média histórica, e deve ser corrigida pela multiplicação de um fator (Kc ou coeficiente de cultivo) ajustando a realidade de cada tipo de planta, microclima e adensamento de plantio. O Kc resulta da multiplicação do Fator de Espécie (Fe ou Ke) que reflete a necessidade de água por tipo de vegetação, pelo Fator de Densidade (Fd ou Kd) que depende da proximidade entre plantas e pelo Fator de Microclima (Fm, Kmc) que depende do micro clima no entorno das plantas. Por exemplo, para uma região de ET0 de 5 mm/ dia, o Kc reduz a lâmina de projeto para 3,1 mm/dia. Os três fatores são obtidos em tabelas e definidos pelo paisagista.
Kc = Fe x Fd x Fm = 0,70 x 1,1 x 0,50 = 0,62 Lâmina de Projeto = ET0 x Kc = 5 x 0,62 = 3,1 mm/dia 9.
9. A setorização do projeto, ou seja, a divisão da irrigação da área total em parcelas operacionais deve respeitar critérios e fatores a seguir, alguns já mencionados no início.

• Irrigar plantas diferentes em setores separados. • Agrupar áreas conforme a luminosidade, sombreamento e umidade.
• Separar as áreas respeitando os hábitos de uso do Jardim.
• Observar a Janela de Irrigação permitida.
• Observar os limites de oferta de pressão e vazão disponíveis.
• Permitir o manejo adequado da rega.
• Respeitar os limites de velocidade na tubulação.
• Separar áreas de taludes de áreas planas.
• Irrigar em nível e não ultrapassar o desnível máximo no setor.
• Reduzir o custo da obra, explorando a vazão máxima da válvula.
• Usar tubos com o menor diâmetro possível.
• Moto bombas com a menor potência de motor possível.
10. Equipamentos de Irrigação de Baixo Volume oferecem vantagens e diferenciais, mas tem especificidades que devem ser consideradas pelo projetista nas suas escolhas:

• Avaliar se o projeto é adequado ao uso da Irrigação de Baixo Volume.
• Conhecer bem as propriedades do solo e a qualidade da água.
• Saber as necessidades de cada planta e a profundidade do sistema radicular.
• Dimensionar um sistema apto a aceitar mudanças futuras no paisagismo.
• Oferecer condições de manutenção apropriada a irrigação de baixo volume.
Marcelo Zlochevsky – julho 2020
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