Como Irrigar em Estufas com Alta Precisão
Autor: André Guilherme Rego - Data: 10/07/2025
A irrigação em estufas exige muito mais do que simplesmente fornecer água às plantas. Trata-se de um processo que envolve precisão, sensoriamento e controle rigoroso, principalmente porque o ambiente protegido altera a dinâmica de evaporação, radiação solar, temperatura e umidade relativa. Nesse contexto, a irrigação de alta precisão se torna essencial para otimizar o uso da água, garantir o desenvolvimento uniforme das culturas e evitar problemas como doenças fúngicas, estresse hídrico ou excesso de umidade no solo.
A seguir, você encontrará um guia prático e técnico sobre como irrigar em estufas com eficiência, baseado em tecnologias atuais e boas práticas de manejo.
Por que a irrigação em estufas exige tanta precisão?
Ao contrário do cultivo a céu aberto, em estufas as condições climáticas são parcialmente ou totalmente controladas. Isso altera significativamente a taxa de evapotranspiração das plantas, ou seja, a quantidade de água que elas realmente perdem e precisam repor. Além disso, a drenagem costuma ser mais limitada, e o ambiente fechado favorece o acúmulo de umidade, aumentando o risco de doenças se o manejo da água for inadequado.
Portanto, o principal desafio é fornecer exatamente a quantidade de água necessária, no tempo certo e no local exato, o que define a irrigação de alta precisão.
Principais Sistemas Utilizados em Estufas
Gotejamento
O mais comum e eficaz para estufas, o sistema de gotejamento permite irrigação localizada diretamente na raiz. É ideal para culturas como tomate, pimentão, morango e hortaliças em geral.
Vantagens:
Redução da umidade foliar
Economia de água e fertilizantes
Baixo risco de doenças
Microaspersão
Usado principalmente para irrigar mudas ou quando se deseja aumentar a umidade relativa do ar. Também é eficaz em cultivos em bancadas.
Cuidados:
Evite molhar folhas e flores sensíveis
Requer filtragem rigorosa para evitar entupimentos
Nebulização e Fog
Usado para controle climático (resfriamento evaporativo) ou irrigação leve em estágios iniciais. É aplicado com alto controle por timers ou sensores.
Tecnologias de Precisão para Irrigação em Estufas
Sensores de Umidade do Solo
Instalados no nível das raízes, permitem saber exatamente quando irrigar. Modelos mais avançados se integram a controladores automáticos.
Estação Climática Interna
Mede temperatura, umidade relativa e radiação dentro da estufa, permitindo ajustes precisos na lâmina de irrigação.
Controladores Inteligentes
Automatizam a irrigação com base em dados de sensores, tempo ou programação por fases da cultura. Muitos modelos são conectados por Wi-Fi ou rádio e podem ser gerenciados via smartphone.
Sistemas de Fertirrigação Automatizada
Permitem injetar fertilizantes com altíssima precisão junto à água de irrigação, otimizando absorção e evitando perdas.
Boas Práticas de Manejo
Para garantir a eficiência da irrigação em estufas, é essencial adotar boas práticas de manejo que considerem tanto as características da estrutura quanto as exigências das culturas. Uma das estratégias fundamentais é dividir a estufa em setores com necessidades semelhantes de irrigação, o que facilita o controle hídrico e evita desperdícios. Além disso, é indispensável calcular a lâmina de irrigação com base na evapotranspiração real (ETc), ajustando o fornecimento de água conforme as fases fenológicas da cultura.

O uso de substratos com boa retenção hídrica e adequada drenagem é altamente recomendado, especialmente em cultivos em vasos, bancadas ou canaletas. Isso permite um melhor controle da umidade ao redor das raízes, favorecendo o desenvolvimento das plantas. Outro ponto crítico é o horário da irrigação: evite irrigar no fim do dia, pois isso eleva a umidade noturna, aumentando o risco de doenças fúngicas, como oídio e botrytis.
É importante também realizar testes de uniformidade de aplicação periodicamente, para garantir que todos os emissores estejam funcionando corretamente e distribuindo a água de forma equilibrada. Por fim, uma prática muitas vezes negligenciada, mas fundamental, é fazer análises periódicas da água utilizada, principalmente em sistemas com recirculação ou captação alternativa, para monitorar a presença de sais, patógenos ou partículas que possam comprometer o desempenho do sistema.
Exemplo Prático – Tomate em Estufa com Gotejamento e Sensores
Um bom exemplo de aplicação prática da irrigação de precisão em estufas vem de um produtor de tomate no interior de São Paulo. Ele instalou sensores de umidade do solo a 10 e 20 cm de profundidade, integrados a um sistema automatizado de irrigação. O controlador foi programado para ativar a irrigação somente quando a umidade caía abaixo de 60% da capacidade de campo, ou seja, no limite ideal de absorção sem causar estresse hídrico.
Com esse manejo mais técnico e eficiente, o produtor obteve resultados expressivos: redução de 35% no consumo de água, diminuição significativa dos casos de míldio e podridão (doenças associadas ao excesso de umidade) e, como consequência, um aumento de mais de 20% na produtividade por planta. Esse caso mostra como o uso de tecnologias simples, quando bem calibradas e aplicadas, pode trazer grandes retornos tanto econômicos quanto ambientais.
Erros Comuns que Devem Ser Evitados
Mesmo com acesso à tecnologia, ainda é comum observar erros de manejo que comprometem o desempenho da irrigação em estufas. Um dos mais recorrentes é usar o mesmo volume de água todos os dias, sem levar em conta as variações climáticas e a demanda real da cultura. Isso leva tanto ao sub quanto ao superdimensionamento da irrigação.
Outro equívoco é molhar as folhas de culturas sensíveis, como morango, alface ou ervas aromáticas, o que favorece o aparecimento de doenças fúngicas. Ignorar a drenagem ou manter substratos encharcados também é um problema frequente, que pode provocar asfixia radicular e perda de vigor das plantas.
Além disso, muitos produtores não calibram os sensores ou controladores após a instalação, o que prejudica a precisão do sistema automatizado. Por fim, é comum subestimar a importância da filtragem, principalmente em sistemas de microaspersão ou nebulização, onde partículas em suspensão podem facilmente entupir os emissores e comprometer a uniformidade da irrigação.
Fontes:
Irrigação para Estufa: Como Garantir o Crescimento Saudável das Plantas
Irrigação para Estufa: 7 Dicas para Otimizar Resultados
Técnicas de irrigação em cultivos protegidos
Veja também:
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