A Irrigação sub superficial como realidade e não apenas potencial futuro

Autor: Marcelo Zlochevsky - Data: 17/02/2021

Como sugere o nome, a Irrigação Subsuperficial, Irrigação Subterrânea ou Gotejamento Enterrado é um sistema de irrigação por gotejamento instalado sob o solo. Na agricultura é comum o uso da sigla SDI, abreviação do inglês “S ubsurface D rip Irrigation”.

Os primeiros registros de enterrio de tubos gotejadores remetem a década de 1980, no cultivo da Jojoba no deserto do Negev, ao sul de Israel, região com oferta muito limitada de água. Um cultivo novo, de baixa demanda de água, poucos tratos culturais, mas que não poderiam ser adiados pela umidade do solo após a rega. As vantagens e limitações iniciais motivaram a pesquisa e fabricação de produtos específicos, de nível tecnológico ainda mais elevado.

No Brasil começamos a falar em gotejamento enterrado em 2004, em uma visita do agrônomo israelense Nir Aloni a plantios de café no cerrado mineiro. Estudando o sistema radicular, sua previsão foi que em 10 a 15 anos a irrigação do café seria com tubo gotejador enterrado, reduzindo custos de manejo, otimizando a safra e aumentando a rentabilidade. Hoje o conceito está enraizado em quase todos os cultivos agrícolas perenes.

Nesta época não se cogitava usar gotejadores de qualquer tipo na irrigação de paisagismo, muito menos um tubo gotejador enterrado. Hoje o uso da irrigação de baixo volume no paisagismo cresce de forma acelerada. Inúmeras áreas de paisagismo irrigado comprovaram as vantagens do gotejamento enterrado, se usados os produtos específicos e diferenciados.

Esta opção de irrigação oferece uma eficiência muito superior a qualquer outra no uso da água, além de permitir o aproveitamento de águas de reuso e de coleta da chuva, sem contaminar o ambiente com eventual odor desconfortável ou ser um vetor de doenças.

O custo do sistema é favorecido pela possibilidade de irrigar a qualquer hora e sem interferir na circulação e no uso do paisagismo, otimizando o projeto hidráulico com a redução da vazão instantânea e da pressão de serviço, e assim reduzindo os custos da tubulação, conexões, acessórios, bombeamento e energia.

A técnica permite atender a irrigação de áreas de dimensões e formatos variados, de difícil solução quando usados aspersores sprays ou rotor. Jardineiras estreitas e áreas pequenas podem ser irrigadas sem molhar calçadas, paredes, passagens ou varandas. Canteiros de avenidas são irrigados sem que o equipamento seja percebido durante a rega, usando menos válvulas e tubos.

Nas obras com apelo sustentável e reuso de água, a contribuição as pontuações são imbatíveis. O gotejamento enterrado agrega os pontos de menor custo adicional na escala LEED.

A flexibilização do manejo da irrigação é também um benefício importante, com taxas de aplicação muito controladas, que permitem aplicar a água de forma adequada a qualquer categoria de solo e atender aos caprichos de qualquer espécie.

A irrigação por gotejamento no paisagismo tem ainda um desafio já vencido na irrigação agrícola, que é a distribuição de água e de nutrientes em uma só operação, conhecida como Fertirrigação, que ao final da década de 1990 optamos por diferenciar com o termo Nutrirrigação, mais específico a boa nutrição das plantas, usando adubos totalmente solúveis, com resultados comprovadamente diferenciados.

É como comparar “fast food a qualquer hora” a “alimentação saudável disciplinada”.

A evolução na Indústria da Irrigação



A indústria da Irrigação de baixo volume evoluiu de forma espetacular. Temos hoje uma grande oferta de emissores confiáveis e que agregam propriedades determinantes, filtros competentes, válvulas eficientes, automação amigável e fácil acesso remoto pelo celular.

Os gotejadores evoluíram, tendo passagens mais amplas e menor sensibilidade ao entupimento, são injetados em moldes mais eficientes, gastam menos material e a fabricação mais eficiente tornou o custo mais baixo.

A auto compensação da vazão, ganhou eficiência, garantindo a quantidade uniforme de água, mesmo com pressões variadas, otimizando ainda mais o projeto hidráulico. Ficou mais fácil atender a topografias onduladas e laterais mais longas, o que reduz o custo da malha de tubos.

Os gotejadores anti drenante evitam o esvaziamento da tubulação ao final da rega, reduzindo a necessidade do uso de acessórios na rede. Com a tubulação cheia, a rega inicia imediatamente sem esperar pelo seu enchimento a cada partida, reduzindo o tempo total em até 30%, além de evitar perdas de água pelo esvaziamento das laterais, o que encharca áreas mais baixas.

A intrusão de raízes não é um pesadelo na irrigação subsuperficial. A liberação lenta de cobre de uma placa inserida em cada gotejador cria um escudo individual em volta do orifício de saída de água e protege contra a intrusão de raízes. O tubo gotejador enterrado dura mais tempo que os modelos não enterrados.

Os filtros têm novos modelos e mecanismos de indicação de necessidade de limpeza, ocupam pouco espaço e exigem menos manutenção. Caiu o paradigma de que apenas filtros de areia protegem emissores contra entupimento e aumentou a confiança na filtragem.

A profundidade de enterrio do tubo gotejador pode variar de 10 a 30 cm conforme a espécie e a profundidade das raízes efetivas de cada espécie.

A manutenção dos sistemas de irrigação enterrados tem menor demanda de reposição de peças e acessórios que outros sistemas, por estar o equipamento totalmente protegido sob o solo.

Estamos tecnologicamente prontos para usufruir dos benefícios da irrigação subsuperficial



1. Sistema Radicular mais forte e mais saudável pela aplicação mais eficiente de água e de nutrientes diretamente no sistema radicular, com resultados rápidos. A água aplicada sob a superfície estimula as raízes a "buscar água” , formando raízes mais fortes, saudáveis e que penetram mais fundo no solo, em vez de concentrar na superfície.

2. A irrigação em alta frequência e pequenas doses de água reduz o encharcamento, mantém a boa oxigenação do solo, agrega eficiência e reduz o tempo de rega. Quanto mais arenoso o solo, maior a economia de água, nutrientes e energia.

3. Janelas de Irrigação sem limitação de horário de funcionamento. A circulação pela área é liberada mesmo durante a irrigação, além de viabilizar o uso de águas residuais sem sofrer com odor desagradável e contaminar o ambiente.

4. Maior flexibilidade ao projeto hidráulico que viabiliza redução do diâmetro das válvulas, tubos, conexões e acessórios, melhora a setorização, reduz o consumo de energia, soluciona a irrigação de áreas com formato irregular.



5. Elimina perdas de água por evaporação do solo, deriva pelo vento ou escorrimento superficial, proporcionando economias expressivas de água, molhando apenas as áreas verdes e mantendo as calçadas e as passagens secas.

6. Redução na incidência de doenças fúngicas na folhagem devido à camada superficial do solo permanecer relativamente seca e a folhagem totalmente seca.

É importante ter atenção a vida útil diferenciada do equipamento e as soluções que oferece, evitando equívocos ao comparar custos de aquisição. A implantação de um sistema de irrigação subsuperficial poderá ter custos mais elevados que outros sistemas de irrigação, inclusive o gotejamento sobre o solo. Esta diferença de custos, se existir, é compensada com os ganhos na economia de água, de energia, de manutenção e de operação ao longo dos anos. Tudo deve ser contabilizado e somado aos ganhos de eficiência, a viabilização de soluções diferenciadas e adequadas a cada parte do paisagismo, a cada espécie e a cada demanda.

De outro lado, e como reza o dito popular, em se tratando de mais tecnologia “Onde há ganhos há que se respeitar mais regras”.

1. A Elaboração do Projeto deve prever todos os acessórios essenciais a operação segura, proteção, monitoramento e prevenção ao entupimento, preparado para durar muitos anos. Uma análise de água é essencial a especificação correta da filtragem.

2. O uso de tubos coletores unindo os finais de linha, torna o sistema fechado, mais protegido e mais fácil de operar. Uma válvula instalada na ponta do coletor simplifica a limpeza e a manutenção do sistema.

3. Sinalizadores de funcionamento como manômetro, pressostato e sensor de fluxo são essenciais a identificação de eventuais demandas de manutenção a tempo de reparar sem reflexos as plantas.

4. Os cuidados com a filtragem devem ser reforçados, mesmo irrigando com água aparentemente sem resíduos, adotando coeficientes de segurança severos na especificação. A vida útil do sistema se prolonga por critérios corretos de retenção e eliminação de impurezas. Cada setor deve ter um filtro de segurança.

Temos hoje uma grande oferta de emissores de alto nível tecnológico, com mecanismos de compensação de vazão, anti drenante e com proteção contra intrusão de raízes, além de filtros eficientes, o que não elimina a atenção com manutenção preventiva e o monitoramento. As vantagens do gotejamento subsuperficial, assim como em outros segmentos, incorpora tecnologias avançadas e oferece inúmeras vantagens, resultados, conforto, confiabilidade e precisão, mas exige atenção redobrada com a manutenção.

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