Paulo Valério e o uso da água na pecuária
Autor: Jéssica de Souza - Data: 16/11/2021
A entrevista deste mês aborda o tema do uso da água na pecuária com o engenheiro agrícola Paulo Valério. Ele fala sobre os projetos que realiza, como é o acesso à água nas regiões rurais, transporte de água e o que é sistema em confinamento.
Aue Irrigação: Fale sobre você e sua trajetória na área agrícola.
Paulo Valério: Me formei em 2006 em engenharia agrícola e comecei trabalhando um pouco com topografia e geoprocessamento. Tinha um escritório em Marabá - Pará e trabalhei com isso durante 3 anos, focado na área de licenciamento ambiental e geoprocessamento. Depois sai de Marabá e fui para Palmas.
Por volta de 2014, na região norte, estava ocorrendo o processo da intensificação da pecuária e percebi que a demanda não era a irrigação de pastagens em si, mas um processo de distribuição da água, volume e posição. O problema era o transporte da água. Então comecei a fazer os projetos rotacionados e de confinamento para cerca de 1000 bois; e hoje realizo para demandas bem maiores, 30.000 bois, possibilitando ainda uma expansão.
Aue Irrigação: Você trabalha com diversas áreas voltadas à água, desde ao transporte da mesma para as propriedades, até instalação de irrigação, construções rurais e energização. Por que oferecer esse amplo leque de serviços?
Paulo Valério: Eu tinha um escritório de engenharia e oferecia esse leque de produtos, mas depois foquei na parte da água e fiquei exclusivo com transporte. O próprio produtor entende como se fosse irrigação; o processo de cálculo é o mesmo, transporte e distribuição, cálculo de bombas. Acabou virando um nicho de mercado, pois percebi que teria serviço suficiente devido a intensificação da pecuária.
Quando falamos em irrigação, no transporte da água, temos que dimensionar tudo, perfurar poço, energia elétrica ou solar, tudo faz parte do projeto. E como temos também a engenharia acabamos adiantando a estrutura das construções para o cliente, que chega até nós pedindo o serviço completo.
Já realizei projetos também para fruticultura, mas meu foco mesmo é fazer parte da tecnificação da pecuária, irrigação e redistribuição de água na parte bovina.
Aue Irrigação: Sabemos que o abastecimento de água em algumas regiões rurais ainda é uma dificuldade. O que você considera ser os principais motivos dessa situação?
Paulo Valério: Temos duas situações. Uma é a complexidade técnica, onde tirar água do subsolo é complicado, já teve casos de perfurar poço de 400 metros e estar seco. Muitas vezes não tem nascente.
Mas a maior parte é o custo. Quem tem boas condições financeiras consegue resolver tudo com a engenharia. Mas dependendo da região o custo se torna inacessível. Dependendo do porte do projeto, para pequenos e médios produtores, não existe linha de financiamento para levar água e distribuir para os animais. O que existe é um financiamento para projetos de irrigação onde a rede de distribuição de água entra como item, mas contempla a parte de bebedouro.
Aue Irrigação: Como você faz esse transporte da água?
Paulo Valério: Primeiro temos que fazer um diagnóstico do sistema do cliente. É feito uma visita técnica, levantado de onde vem a água e para onde ela vai, se será um poço artesiano ou represa, a fonte de captação e sua qualidade, a forma de bombeamento.
Com a forma de bombeamento definimos a quantidade ideal de reserva. Por exemplo, se for um sistema movido a energia solar a reserva é maior porque é mais em conta armazenar água do que a energia. Se for energia elétrica convencional, tem que analisar o caso, qual tempo que consegue fazer um reparo no sistema deste se der problema em uma bomba de poço artesiano, o poço é profundo ou não; é roda d água ou não. Em cima disso, definimos a reserva.
Outra questão é a demanda de área que teria, e a partir disso dimensionamos toda a tubulação.
Aue Irrigação: O que é considerada uma água de qualidade?
Paulo Valério: Existem critérios. O ideal é fazer uma análise físico-química da água, para determinar esses parâmetros, no ponto de vista biológico e no dos minerais.
Vai ser para abastecimento? Então existe uma norma que vai determinar esse parâmetro, exemplo, microbiológico.
A qualidade da água referente ao bombeamento, por exemplo, é sólido suspenso, o que pode interferir no sistema de bombeamento, porque você tem bomba adequada para cada tipo. Se for uma bomba de poço artesiano de água limpa, bomba com rotor aberto, semiaberto, fechado; ela tem que bater com a qualidade da água.
E considerar a química que pode ter na água, se tem ferro em suspensão, porque o ferro pode dar problema no sistema de irrigação.
”A irrigação de pastagem seria uma etapa no final do processo de intensificação. Ela é uma parte de um sistema de intensificação. Para você chegar nela você tem que ter dominado parte da divisão de pastagem, manejo de gato, genética, suplementação. A irrigação por si só não resolve o problema, ela ajuda, você precisa dessas etapas.”
- Paulo Valério -
Aue Irrigação: Agora entrando na questão da irrigação, quais as vantagens de um sistema irrigado em produções de bovinos?
Paulo Valério: A irrigação de pastagem seria uma etapa no final do processo de intensificação. Ela é uma parte de um sistema de intensificação. Para você chegar nela você tem que ter dominado parte da divisão de pastagem, manejo de gato, genética, suplementação. A irrigação por si só não resolve o problema, ela ajuda, você precisa dessas etapas.
O sistema de irrigação, mesmo no período de chuvas, te dá uma segurança de safra e estabilidade de produção. Por exemplo, choveu a metade do que a planta precisa para manter o potencial produtivo máximo, você liga a irrigação para suplementar. Muitas vezes dá aquela primeira chuva, o capim tá verde, mas não tá no seu potencial produtivo máximo.
Outra coisa importante na irrigação para bovino, facilita o manejo. Hoje praticamente todo sistema de irrigação, o custo da fertirrigação é muito baixo em relação ao sistema total, então você pode aplicar fertilizante e manter tudo no potencial produtivo máximo.
Aue Irrigação: Quais tipos de irrigação podem ser inseridos nesse meio e quando são indicados?
Paulo Valério: Se a qualidade da água não for reuso, chorume, água tratada , uma lagoa, o indicado é a aspersão convencional.
Em águas de reuso seria um sistema tipo mini canhão. Vai ter uma eficiência menor. Devido a qualidade da água você precisa de um bocal maior que vai jogar a uma grande distância e com isso perder em eficiência. Mas em razão da qualidade da água não tem como usar o outro modelo. Poderia caso tivesse uma filtragem bem eficiente.
Aue Irrigação: O que seria irrigação em confinamento?
Paulo Valério: O objetivo dela é diminuir a poeira. Reduzindo a poeira você reduz o índice de doença, ajuda no microclima em regiões secas aumentando a umidade e traz conforto para o animal.
Normalmente não tem a necessidade de uma sobreposição tão grande ou eficiência grande em relação ao sistema de irrigação para plantio. Você pode fazer ele com microaspersor passando pela parte superior, fica acima do boi, e pode utilizar pelo sistema de aspersão convencional.
Aue Irrigação: Você é cliente da AuE Software e utiliza o HydroLANDSCAPE. Como o software te auxilia nos projetos?
Paulo Valério: Eu utilizo não só para fazer o projeto mas para fazer simulação.
Se fosse fazer manual, comparar e trocar tubulação, aspersor, ia levar um tempo. Com o software eu consigo ter uma visão melhor do projeto e a velocidade de desenvolvimento é maior.
O mais importante para mim são os relatórios que consigo analisar. Faço o projeto com uma tubulação, lâmina, organização dos setores. Depois realizo uma simulação, troca de tubulações, verifico os pontos críticos, ponto de menor e maior pressão. Observo e faço de forma preventiva para evitar problemas para meu cliente.
Aue Irrigação: Fale sobre um projeto recente no qual fez uso do HydroLANDSCAPE
Paulo Valério: Meu último projeto foi uma irrigação em confinamento.O projeto sai de um reservatório de geomembrana, a água é bombeada e distribuída nos currais de confinamento.
É para 30.000 bois, você tem uma faixa em relação a quantidade de animais que vai colocar por m², pode variar entre 30/38 mil bois.
É expansivo e consegue atender até 50.000 bois.
Utilizei o HydroLANDSCAPE na análise do projeto, de todo funcionamento da irrigação. Como ficou setorizado, como vai funcionar, quantas válvulas vão abrir,
custo-benefício do uso da tubulação, quantificação de material, etc.
Confira imagens do projeto de confinamento e o reservatório em geomembrana :
Fonte: Paulo Valério
Fonte: Paulo Valério
Fonte: Paulo Valério
Fonte: Paulo Valério
Fonte: Paulo Valério
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