Vitor Pedreira: Uma Jornada de Irrigação no Coração do Cerrado
Autor: André Guilherme Rego - Data: 01/07/2025
Natural de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, Vitor Pedreira é engenheiro agrônomo e pós-graduado em irrigação. Sua trajetória na área começou ainda cedo, aos 17 anos, quando ingressou no curso técnico em agropecuária pelo Instituto Federal de Catu, próximo a Salvador. Foi nessa fase que iniciou seu trabalho com irrigação indireta, o que despertou sua vocação para o tema.
Aos 18 anos, Vitor prestou vestibular para o curso de Agronomia e foi aprovado em uma disputa acirrada por uma única vaga destinada à região. Com a necessidade de custear seus estudos, ele buscou uma oportunidade de trabalho. Ao entregar seu currículo na Casa da Lavoura, em Barreiras, foi contratado após apenas "10 minutos de bate-papo com o gestor da empresa", iniciando sua trajetória na organização como estagiário.
Irrigação em Agricultura e Paisagismo
Inicialmente, Vitor acreditava que sua atuação na irrigação se limitaria ao campo agrícola. No entanto, durante uma viagem a Florianópolis com colegas de trabalho, participou de um curso de paisagismo e conheceu a Academia Rain Bird. A experiência foi transformadora. “Saí apaixonado com todo o conhecimento técnico de paisagismo”, lembra.
Nesse período, teve o primeiro contato com o software HydroLANDSCAPE, ferramenta que se tornaria essencial em sua carreira. O domínio do programa marcou uma nova etapa: Vitor passou de vendedor para projetista, depois coordenador de projetos e hoje é sócio da Casa da Lavoura, atuando como Diretor Técnico.
Características da Região
Barreiras e Luís Eduardo Magalhães estão localizadas em uma das mais importantes fronteiras agrícolas do Brasil, fazendo limite com os estados do Tocantins, Maranhão e Piauí. O bioma predominante é o cerrado e a topografia muda consideravelmente entre os municípios. A região é marcada pelo cultivo de soja, milho e algodão, enquanto o Vale do Rio Grande, por estar inserido em um perímetro irrigado, tem forte presença da fruticultura.
Esse perímetro é parte de um projeto governamental que facilita o acesso à água, funcionando como um sistema similar ao da EMBASA, onde os produtores recebem água para suas lavouras. A irrigação na região utiliza diferentes fontes, como poços artesianos ligados ao Aquífero Urucuia, um dos maiores do Brasil, além dos rios São Francisco, de Pedra e Rio Grande.
Durabilidade dos Sistemas de Irrigação
Segundo Vitor, os sistemas de irrigação têm grande durabilidade. Em áreas agrícolas com pivô central, os equipamentos podem funcionar perfeitamente por mais de 20 anos. Já nos sistemas voltados para fruticultura, a durabilidade varia de 10 a 20 anos, devido ao uso de componentes como microaspersores e mangueiras de polietileno, que exigem substituições mais frequentes. Ele destaca que há emissores com vida útil de até 10 anos, mas que eventualmente precisam ser trocados para manter a eficiência do sistema.
Sustentabilidade e Uso da Água
Sobre a possibilidade de redução na vazão dos rios no futuro, Vitor ressalta a complexidade do tema. Ele acredita que o futuro depende da forma como os projetos de irrigação serão conduzidos nos próximos anos.
Ele ressalta que, com o uso eficiente da água e o respeito às exigências legais, há espaço para expansão. “Se continuar no ritmo que está hoje, fazendo bons projetos de irrigação, seguindo as exigências da legislação, da reserva legal, da preservação da mata ciliar... temos o potencial de irrigar mais de 10x do que se irriga hoje.” Porém, alerta que o caminho oposto, com baixa eficiência e descuido ambiental, pode comprometer seriamente o futuro da irrigação no país.
O Crescimento do Cacau Irrigado
Um dos focos recentes de Vitor tem sido a irrigação de lavouras de cacau, cultura que tem se expandido com força no cerrado baiano. O crescimento da demanda por esse tipo de projeto acompanha a valorização do cacau irrigado, tema que será amplamente discutido no evento Cacauricultura 4.0, considerado o maior evento de cacau do Brasil.
Para Vitor, não há dúvidas sobre a importância da irrigação nessa cadeia produtiva: “Sem a irrigação, não chega o chocolate nas mesas das pessoas.” A afirmação sintetiza a relevância nacional do tema e reforça o papel estratégico da tecnologia na segurança alimentar e na produção sustentável.
O Uso do HydroLANDSCAPE e Projetos Públicos
A relevância do HydroLANDSCAPE no desenvolvimento dos projetos de Vitor é notável.
“Todos os profissionais da região oeste da Bahia foi indicação minha a utilizar o programa (HydroLANDSCAPE), porque no momento em que eu entendo que usando um software desse, vai trazer mais eficiência para os projetos, mais qualidade vai deixar o mercado de irrigação em evidência de forma positiva.”
Um dos projetos mais marcantes foi a transformação de uma praça pública em Barreiras, que antes servia como espaço de exposição de animais. O local foi revitalizado e hoje conta com pista de skate, áreas de caminhada, corrida, muito gramado e arborização. A irrigação do espaço foi planejada com diversidade técnica: gotejamento em áreas nobres, sprays onde era necessária pulverização e rotores em áreas abertas. A irrigação ocorre a partir das 23h, respeitando o melhor aproveitamento da água. “Desligou” da questão do vandalismo e priorizou tecnicamente os melhores produtos para garantir um projeto economicamente viável.
Mensagem Final a Aquele que querem Começar na Irrigação
Para aqueles que desejam iniciar na área da irrigação, Vitor deixa uma mensagem de incentivo, mas também de realismo.
“Irrigação não é fácil, mas é prazeroso. Não é fácil para quem não quer, para quem quiser aprender se torna facilmente uma fonte de renda para quem gosta e quem aplica a técnica no dia a dia. É um mercado que está crescendo muito.”
Sua história mostra que, com dedicação, conhecimento técnico e sensibilidade ambiental, é possível transformar desafios em oportunidades e contribuir de forma concreta para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.
Veja a entrevista completa no Youtube:
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