Gotejo na Cafeicultura: Menos Água e Mais Qualidade
Autor: Giulia Wogel - Data: 14/03/2024
O plantio de café tem papel importante na história do Brasil. Durante o século XIX e o início do século XX ele foi o principal produto de exportação da economia nacional e é hoje a segunda bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a água. Além disso, o Brasil é o maior exportador de café mundial e o segundo maior consumidor, perdendo apenas para os Estados Unidos. Para manter o ritmo da produção em massa desse grão e, portanto, a rentabilidade da lavoura, um bom sistema de irrigação é indispensável. Por isso, pequenos e grandes produtores vêm investindo em tecnologias avançadas para os cafeeiros, a fim de aumentar a resistência das plantas a doenças e estresses ambientais; proporcionar menos riscos; mais eficiência na utilização e aplicação de insumos; maior produtividade e maior qualidade do produto.
De acordo com a Agência Nacional da Água No Brasil, quase 10% da cafeicultura nacional é irrigada atualmente, e a previsão para 2040 é que esse valor chegue aos 35%, equivalente a cerca de 605.000 hectares. Com o aumento do aquecimento global e das irregularidades climáticas, até mesmo áreas tradicionais de plantio, como os estados de Minas Gerais e São Paulo, vêm sofrendo o efeito de estiagens prolongadas nos períodos críticos de demanda de água pela planta, promovendo queda na produção de várias lavouras. Ainda, O próprio Atlas da Irrigação mostra que a irrigação, de forma geral, garante eficiência de 95% no uso da água, o que sinaliza uma utilização bastante responsável dos recursos hídricos da fazenda. Essa água, captada em reservatórios da propriedade, é filtrada antes de ser aplicada nos cafezais, e ainda pode ser o veículo para fornecer nutrientes e outros elementos essenciais às plantas.
Sendo assim, entre a série de métodos para irrigação disponíveis no mercado, o sistema por gotejamento é um dos mais utilizados. Seu mecanismo de irrigação localizada possibilitam uma irrigação eficiente, promovendo também economia de água e energia e garantindo o abastecimento de água diretamente na raiz da planta.
O Plantio de Café
O cafeeiro é uma planta que responde bem ao uso da irrigação, pois aumenta a produtividade, a tolerância à seca, a qualidade de bebida, dentre outros benefícios. A água possui funções essenciais na fisiologia da planta. Por isso, quando está com déficit hídrico, ela murcha, perde folhas e ramos, inibe o crescimento, torna-se mais suscetível ao ataque de patógenos e dificulta seu processo reprodutivo, diminuindo assim a produção.
Dessa forma, durante o ciclo do cafeeiro, diferentes quantidades de água são necessárias e contar com um sistema de irrigação por gotejamento é ter o controle dessas medidas com precisão, garantindo a boa produtividade da lavoura. Também, o gotejo permite uma incidência direta nas raízes dos cafeeiros, possibilitando a formação igualitária dos grãos de café. Portanto, espera-se que aconteça uma maior adoção desse método na cafeicultura, considerando seus benefícios e o crescimento da irrigação na atividade.
O Sistema de Gotejamento
Por funcionar de forma localizada, a irrigação por gotejamento:
É um dos sistemas que mais economiza água e energia; Tem alta uniformidade de aplicação (acima de 90%), diminuindo a chance de doenças e plantas invasoras;Facilita a aplicação de fertilizantes, inseticidas, fungicidas, herbicidas, nematicidas, entre outros produtos, que acontece via água de irrigaçãoPossibilita que regiões com baixa pressão ou difícil acesso de água consigam ser irrigadas;Evita perdas de nutrientes;Tem um sistema totalmente automatizado;Permite melhor controle da profundidade da água aplicada, reduzindo perdas por evaporação, percolação e escoamento superficial;Elevação da produtividade média para culturas com maior umidade do solo;
Resumidamente, no sistema de gotejamento, a água captada do reservatório da propriedade é filtrada e pressurizada até os gotejadores, que a libera em pequena intensidade e alta frequência na região das raízes do cafeeiro. Com isso, o umedecimento da área é parcial, direcionando as raízes da planta a crescerem a partir do volume de solo úmido, reduzindo então, o volume total de solo explorado pelas raízes.
Tenha em mente que antes de adotar um sistema de irrigação é necessário analisar previamente o mais adequado de acordo com a lavoura e região. Fatores como a capacidade hídrica do local, estrutura do terreno, qualidade da água e valores disponíveis para o investimento devem ser considerados ao tomar uma decisão, a fim de garantir uma boa eficiência do sistema.
Apesar das vantagens, o sistema apresenta alguns inconvenientes, como a falta de mão de obra especializada, o custo de implantação e manutenção mais elevado que dos outros sistemas existentes no mercado, existindo também riscos de entupimento das ponteiras e de corte das mangueiras por máquinas e equipamentos, durante algum manejo, ou por roedores. Contudo, se o intuito é ter uma agricultura mais sustentável, produtiva e rentável, o gotejamento é recomendado. Por exemplo, no município de Lavras-MG houve um aumento de 33,48% da produtividade após adotarem a irrigação por gotejamento para o café.
Diferenças do sistema de gotejamento enterrado e superficial
As discussões acerca de enterrar ou não os tubos gotejadores chamou atenção no final de década de 1990. Tal proposta surgiu pela necessidade de preserva-los da exposição excessiva do sol, ataque de roedores, danos por capinas ou ainda remoção por sopradores dotados de hélices. Contudo, os aspectos fisiológicos do cafeeiro não foram considerados. Depois de experimentos coma nova prática na cafeicultura, concluiu-se que o sistema de irrigação superficial é superior ao enterrado, visto que ocorrem perdas na produção de 17 a 48%. Essa perda é justificada pela percolação (descida) da água ao enterrar os tubos, impedindo sua concentração nos 30cminiciais de profundidade, onde 90% das raízes do café se encontram.
Outro empecilho é o aumento da acidez do bulbo de irrigação por fertilizantes, que com tubos enterrados a correção do problema depende de uma fertirrigação com corretores de acidez, diferentemente do gotejo superficial, que propõe a alternância do tubo gotejador para que o bulbo ácido não se concentre em apenas uma localidade. Nesse sentido, o sistema de gotejo enterrado dificulta o reparo e a checagem de irregularidades, podendo provocar perdas na produtividade por falhas despercebidas, além de ser bem mais caro que o superficial.
No entanto, enterrar os tubos continua sendo uma opção viável, que terá como diferencial a maior proteção contra danos externos. Já para evitar os demais problemas, deve-se seguir recomendações como:
Utilização de gotejadores adequados, dotados de mecanismos antisifão / antidrenantes / autolimpantes;Deve-se enterrar, no máximo, a 15 cm de profundidade, e até 30 cm da linha de café;Respeito às manutenções preventivas e corretivas para evitar obstruções (cloro, ácidos, etc.);Aplicação periódica de herbicidas via água de irrigação, para evitar a intrusão de raízes nos gotejadores;Avaliações periódicas pelo menos uma vez por ano;
Referências
Gotejo enterrado na cafeicultura, vantagens e desvantagens. Disponível em: https://www.santinatocafes.com/artigos/detalhe/33/gotejo-enterrado-na-cafeicultura-vantagens-e-desvantagens
Manejo e viabilidade econômica da irrigação por gotejamento na cultura do cafeeiro acaiá considerando seis safras. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eagri/a/FRYX3sYgrQYMMVDSYQWcHPC/
Gotejamento enterrado em café. Disponível em:
https://www.cafepoint.com.br/noticias/tecnicas-de-producao/gotejamento-enterrado-em-cafe-86311n.aspx
Gotejo é o sistema mais indicado para a cafeicultura. Disponível em: https://revistacampoenegocios.com.br/gotejo-e-o-sistema-mais-indicado-para-a-cafeicultura/
Irrigação por gotejamento na cultura de café. Disponível em: https://agriculture.basf.com/br/pt/conteudos/cultivos-e-sementes/cafe/Irrigacao-por-gotejamento.html
A irrigação por gotejamento na cultura do café funciona? Disponível em: https://agriculture.basf.com/br/pt/conteudos/cultivos-e-sementes/cafe/cafe-beneficios-irrigacao-gotejamento.html
Raízes do café no Brasil. Café no Brasil e suas origens. Disponível em: uol.com.br
Brasil é o maior produtor mundial e o segundo maior consumidor de café — Ministério da Agricultura e Pecuária. Disponível em: www.gov.br
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